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Transporte

Avaliamos as condições das ciclovias em 12 capitais e o resultado é preocupante

02 jul 2014
Quem é ciclista sofre: não há sinalização, nem orientação.
As ciclovias estão longe de atender bem aos seus moradores e visitantes. Falta de tudo: estrutura adequada de circulação, interligação entre as vias, orientação para os ciclistas, placas indicativas de rotas e, o principal, segurança.

Na maioria das 12 capitais integrantes do estudo, a PROTESTE Associação de Consumidores constatou ciclovias espalhadas sem cumprir a função de levar as pessoas a diferentes destinos, com exceção de um trecho no Rio de Janeiro.

O país prometeu muito em termos de mobilidade urbana para a Copa do Mundo, mas pouquíssimo foi cumprido. Essas obras, que fariam parte do legado prometido à população, não saíram do papel.

Em Brasília, as promessas de novas rotas e maior mobilidade não saíram totalmente do papel. As ciclofaixas estavam em péssimas condições, com a tinta no chão gasta e a sinalização inadequada. Havia muitos trechos em construção, mas com baixa qualidade. Além disso, deixavam a desejar na qualidade das vias, sinalização e a funcionalidade, por não interligar as principais áreas da cidade.

Em Manaus, as ciclovias são restritas aos parques – e são muito curtas. Não é possível usar esses espaços para outras atividades cotidianas que não sejam o lazer do final de semana.

Cuiabá também precisa urgentemente cuidar dos poucos quilômetros de ciclovias e ciclofaixas que tem e falta criar novas áreas para os ciclistas. As existentes estavam em péssimas condições e não servem para melhorar a mobilidade, não sendo alternativas seguras. A PROTESTE constatou total descaso: falta de sinalização, lama, abandono de materiais de construção na pista e até mesmo o uso do espaço como acostamento.

Em Natal, o maior e principal trecho de ciclovia (cerca de 8 km) segue a orla da reserva do Parque das Dunas. Ela é separada da via e pintada na cor vermelha. Mas não tinha sinalização, alguns trechos estavam quebrados e a vegetação da praia invadia a pista. Nos trechos de travessia de veículos, não havia sinalização e havia postes no meio da via.

As ciclovias de Curitiba estavam bem sinalizadas, embora sofram com o vandalismo. As condições das vias poderiam ser melhores, mas nada que impedisse a circulação. As ciclovias primam pela indicação de atenção aos cruzamentos, travessia de carros e pedestres e orientação ao destino. Pensar em novas rotas dentro dos bairros com destino ao centro é um ponto de melhoria.

Em Porto Alegre, as ciclovias são pequenas (menos de 15 km), não são interligadas, mas a maioria é bem sinalizada. Causou estranheza uma ciclofaixa no centro da cidade, bem pequena (menos de 1 km dividida em dois trechos e cortada por uma praça). A via contava com muito lixo e pouco respeito dos pedestres. E poderia ser maior e interligar a outros lugares. 

São Paulo conta com cerca de 43 km de ciclovias, divididas em cinco diferentes trechos. O mais importante é o da Marginal do Rio Pinheiros, com quase 22 km. O percurso é bem sinalizado e isolado dos carros, com guarda-corpos para evitar quedas no rio, e integrado a algumas estações de trem. A segunda mais importante é a da Radial Leste, com boa sinalização e bem protegida. Mas havia alguns pontos com falta de limpeza, mas nada que atrapalhasse os ciclistas.

O Rio de Janeiro conta com a maior malha cicloviária do Brasil e uma das maiores da América Latina, com 366 km. Mas ainda falta indicações de destinos. E as ciclovias construídas na Zona Oeste, principalmente as próximas ao BRT na Avenida das Américas, não tinham sinalização, apresentavam péssimo acabamento e a travessia de uma calçada para outra não era adequada. Também havia postes no meio da via, interrompendo o tráfego de bicicletas.

Em Belo Horizonte, há 50 km de ciclovias espalhadas pela cidade. Elas estavam bem sinalizadas. As ciclofaixas, em determinados locais, eram separadas por pequenos blocos de concreto, o que é muito bom, mas isso não ocorre em toda sua extensão. No geral a sinalização era boa, embora não houvesse qualquer sinalização para orientar especialmente o ciclista. Não havia indicação de até onde a ciclovia pode levar, e por serem curtas, não interligam os bairros.

Fortaleza dispõe de 74 km de ciclovias e ciclofaixas. A ciclovia da Avenida José Bastos, que é nova, estava com problemas de conservação e sinalização. Ela foi criada sobre o canteiro central, mas os postes e placas para auxiliar os motoristas acabaram ficando dentro da ciclovia, podendo causar acidentes aos ciclistas.

No Recife, as pistas da orla estavam sinalizadas e conservadas, e é possível alugar bicicletas. Não são retas e fazem pequenos ziguezagues, para que o ciclista não corra, pois o tráfego de pessoas em direção à praia é intenso. O ponto negativo é que não há ciclovia nas ruas que dão acesso à orla, limitando o acesso dos ciclistas.

Em Salvador, um bom trecho da ciclovia da orla que vai da região de Pituba até Itapuã foi reformado, assim como a nova orla da Boca do Rio, que foi recentemente inaugurada e atrai pessoas de todas as idades. A ciclovia da Boca do Rio poderia ter melhor conservação e sinalização. Também não há ligação dessa ciclovia com outras áreas da cidade, o que é um erro frequente por parte dos urbanistas – e que acaba prejudicando quem busca esses espaços para lazer e para se deslocar rumo ao trabalho ou à escola.

Para a avaliação a PROTESTE percorreu, em fevereiro, ciclovias de 12 capitais brasileiras, para verificar se estão bem conservadas e sinalizadas e, ainda, se os pedestres e motoristas respeitam esses espaços. O objetivo era verificar a eficácia para a mobilidade de cada cidade analisada e seus impactos.

A conclusão é que é preciso definir novas metas para as ruas, a fim de atender à demanda dos ciclistas e, assim, reduzir os acidentes com veículos e os congestionamentos. Melhorar o transporte e implementar ciclovias também incentivam o comércio local e promovem um estilo de vida mais saudável. Por isso, devemos exigir que as cidades que abandonaram as ciclovias em seus projetos de mobilidade urbana venham a público se justificar e estabelecer novos planos para que futuramente eles possam sair do papel.